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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Geógrafo precoce. Embora formado em direito, Milton Santos começou a lecionar geografia aos 15 anos - 2ª parte


Milton de Almeida Santos nasceu em Brotas de Macaúbas no sertão baiano dia 3 de maio de 1926. Seus avós maternos eram professores primários mesmo antes da abolição. "Do lado paterno, devem ter sido escravos", declarou certa vez. "Não sei muito bem porque em minha casa me ensinaram a olhar mais para frente do que para trás." Seus pais também eram professores primários, uma família "humilde mas não pobre, e que tentou me dar uma educação para mandar, para ser um homem que pudesse, dentro da sociedade existente na Bahia, conversar com todo mundo".
Concluiu o curso primário em casa aos oito anos de idade. Como faltavam dois anos para ingressar no ginásio, seus pais lhe ensinaram álgebra, francês e boas maneiras.
Aos dez anos tornou-se aluno do tradicional Instituto Baiano de Ensino em Salvador. Pagava o internato onde moraria por uma década com o dinheiro que recebia lecionando geografia na própria escola. Milton atuou no jornalismo estudantil e foi um dos criadores da Associação de Estudantes Secundaristas Brasileiros. Seus colegas se opuseram à candidatura de um negro para presidente -- alegaram a dificuldade para discutir com autoridades. "E eu, menino, tolo e inexperiente, acabei perdendo a eleição." Milton era ótimo aluno em matemática e queria seguir engenharia, mas acreditava-se que a Escola Politécnica não aceitaria negros com facilidade. Como um tio seu era advogado, foi aconselhado a estudar direito. Formou-se na Universidade da Bahia em 1948 mas nunca exerceu a profissão. Dedicou-se à geografia, que ensinava desde os quinze anos. "A noção de movimento de idéias veio depois, mas a das mercadorias, das coisas, das pessoas talvez tenha me levado para a geografia", declarou. Também foi fundamental o contato com o livro Geografia Humana, de Josué de Castro. "Era uma espécie de história contada através do uso do planeta pelo homem. Aquilo me
impressionou."
Em 1948 Milton Santos publicou seu primeiro livro: O povoamento da Bahia. Prestou concurso público para professor secundário e foi lecionar em Ilhéus. Nesse período conheceu livros e revistas de geografia, alguns da Associação Brasileira de Geógrafos (AGB), então concentrada no eixo Rio-São Paulo. Milton resolveu participar de uma reunião da AGB, que acontecia em Uberlândia(MG), para perplexidade dos não mais de 30 profissionais reunidos. Nessa ocasião conheceu Aziz Ab'Sáber, de quem se tornaria amigo. Ab'Sáber recorda-se que Milton insistia em discussões teóricas entre determinismo e possibilismo enquanto problemas analíticos estavam em pauta. "Demos risada, mas ele era simpático e inteligente, eu e alguns professores nos aproximamos dele."
Milton passou a convidar professores de geografia paulistanos para da conferências e cursos de férias aos alunos da Universidade Católica de Salvador, onde atuou entre 1956 e 1964. Também era correspondente na região do cacau para o jornal A Tarde, o mais lido na Bahia à época.
A discussão teórica entre determinismo e possibilismo remonta à institucionalização da geografia, na França e Alemanha na primeira metade do século 20. O determinismo é o modelo alemão, segundo o qual o ambiente dita as características do indivíduo. O possibilismo francês especula que pode haver inúmeras variações dos efeitos ambientais sobre o homem.

Raquel Aguiar
Ciência Hoje/RJ

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