Subscribe

RSS Feed (xml)

Powered By

Skin Design:
Free Blogger Skins

Powered by Blogger

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

CAPITALISMO EM CRISE

Os antecedentes da tormenta

Ao examinarmos todo o período do pós-guerra, este por certo é o momento de maior fragilidade na administração da economia capitalista. Está claro que os efeitos deste novo capítulo da crise, deflagrado pelo estouro da bolha imobiliária, não desacelera apenas a economia norte-americana. O lubrificante da desregulação parece ter esgotado a capacidade de azeitar a engrenagem do sistema. A análise é de Luiz Gonzaga Belluzzo.

Luiz Gonzaga Belluzzo

O crescimento da última década foi celebrado como a expressão de um triunfo inexcedível da experiência capitalista dos Estados Unidos sobre o resto do mundo. Avaliações peremptórias não hesitaram em apontá-la como superior não só à experiência socialista, como também a de outros tipos de capitalismo, como o japonês e os modelos europeus de sociedade e de economia. (1)

O crescimento desse período teve início na segunda metade de 92, foi lento até mais ou menos 1995/1996 e, paradoxalmente, começou a se acelerar após as crises mexicana, asiática e brasileira. Em boa medida a economia norte-americana se nutriu das crises na periferia do sistema para ganhar nervos e musculatura. O período que vai do final dos anos 70 até esse salto, marca uma lenta recuperação do poderio econômico, militar e financeiro dos Estados Unidos. Ele se fez não só com a derrota política e econômica da URSS, mas também com a imposição do padrão capitalista norte-americano e, sobretudo, do capital financeiro do país às demais nações.

Desde os anos 70, os Estados Unidos já vinham abandonando certas referências que marcaram seu crescimento no pós-guerra, bem como desmontando regras prudenciais de gestão financeira adotadas a partir dos anos 30 e consolidadas durante o esforço bélico. Tais características haviam contribuído significativamente para a recuperação da Europa no pós-guerra, além de abrirem espaços para a industrialização de países do Terceiro Mundo. A existência de um bloco socialista competindo com o capitalismo foi igualmente decisiva na ampliação das oportunidades de desenvolvimento no planeta.

O modelo pós-II Guerra

É importante lembrar que a direção política do capitalismo estadunidense nesse período era bem mais heterogênea do que a atual. Havia, por exemplo, dentro do governo Roosevelt, uma fração muito importante do Partido Democrata que preconizava um futuro salvaguardado pela aliança entre os Estados Unidos e a União Soviética. O inimigo verdadeiro, desse ponto de vista, seria o velho imperialismo europeu, o que explica, em parte, as dificuldades do representante inglês em Bretton Woods, John Mayanard Keynes, para viabilizar suas propostas de reforma do sistema monetário internacional.

Ao contrário do que ocorreu no final da I Guerra Mundial, porém, e que levou à crise do capitalismo desregulado de então, cujo ápice foi a Depressão de 29 e dos anos 30 - em 1944 os EUA tomaram a decisão política de não repetir os erros do passado. O Plano Marshall e o impulso dado à reconstrução européia para a unificação econômica, foram decisivos para as economias alemã e a francesa se rearticularem. Da mesma forma, o financiamento norte-americano foi o divisor que permitiu a reconstrução econômica japonesa.

A impressão dominante naquele momento era a de que o capitalismo estava diante de um sólido e prolongado ciclo de expansão à salvo das flutuações cíclicas violentas inerentes à sua dinâmica de crescimento. Novas formas de regulação e controle do sistema haviam sido introduzidas sob o impulso de forças sociais que emergiram ao final da Guerra, entre elas os partidos comunistas, que tiveram papel relevante na definição das estratégias de reconstrução do capitalismo europeu. Entre as principais características dessa nova institucionalidade estava a admissão de que o Estado, obrigatoriamente, deveria promover a regulação do ciclo econômico.

Os Estados nacionais passaram então a se apropriar e a dispender uma fatia do produto nacional muito superior àquela observada nos anos 20. O maior controle público sobre o excedente evitaria que as flutuações do ciclo econômico redundassem em ajustes baseados na contração quase automática da renda e do emprego como ocorrera até 1929. A segunda característica associada às coligações sociais e políticas que emergiram nesse período foi o crescimento do salário real e dos benefícios sociais, paralelamente ao aumento da produtividade do trabalho. (2) Um terceiro pilar fundamental de sustentação dessa arquitetura foi a instituição do controle dos movimentos de capitais entre os países, sobretudo dos capitais de curto prazo.

Vale lembrar que a reforma que Keynes e Dexter White tentaram aprovar em Breton Woods envolvia, grosso modo, as seguintes balizas: o dinheiro internacional seria simplesmente uma moeda de conta, permitindo que os países trocassem mercadoria por mercadoria. O dinheiro funcionaria assim apenas como referência de cálculo. Os países que tivessem déficit registrariam num banco internacional, em sua conta, a dívida com os demais. A compensação entre os déficits e superávits tornaria desnecessário saldar dívidas através de movimentos de capitais de curto prazo. Keynes, a partir da experiência nefasta dos anos 20, estava convencido de que não era prudente delegar aos mercados a regulação do fluxo monetário internacional. Tampouco eles deveriam assumir a responsabilidade pelo fornecimento de liquidez aos países que porventura registrassem déficit na balança de pagamentos.

Como se sabe, esse sistema não foi aceito em sua totalidade nem pelos Estados Unidos, nem pela Inglaterra. Mesmo assim o acordo de Bretton Woods permitiu que os países controlassem suas contas de capital, proporcionando-lhes maior autonomia na fixação das políticas monetária e fiscal. A prerrogativa de proibir a entrada e a saída de capitais manteve-se até meados da década de 80, inclusive no Brasil, garantindo certo grau de proteção à política econômica contra ondas de volatilidade e movimento especulativo no plano internacional. Ao contrário do que ocorre hoje, caso houvesse uma crise na Bolsa de Nova York, os governos não tinham que elevar a taxa de juro– dispunham de instrumentos para impedir que os efeitos da turbulência fossem integralmente internalizados.

O que se verifica neste dias é exatamente o oposto. Capitais se movem livremente pelo planeta apostando na desvalorização das moedas; promovendo chantagem explícita contra políticas de juro baixo; ou ainda tomando posição nos mercados à vista, ou de contratos futuros, contra economias supostamente dotadas de moedas frágeis. Se esses mercados funcionam livremente, a especulação é inevitável - por definição, eles são mercados especulativos. (3) Falar em controle de capitais tornou-se um anátema a partir dos anos 70– pelo menos foi assim até a emergência da nova crise acionada pelo estouro da bolha imobiliária nos EUA. Na verdade, os grandes protagonistas do processo econômico, a grande empresa internacional e os grandes bancos, frequentemente ganham mais dinheiro no mercado financeiro do que na produção de mercadorias.

Quando uma empresa está localizada em vários mercados, como ocorre hoje, poderá ter um ganho fenomenal se estiver bem posicionada diante de uma alteração cambial –o que não é difícil considerando-se que têm acesso a boas informações e relações estreitas com grandes bancos. Em caso de aposta equivocada, todavia, as perdas, como estamos vendo, podem assumir contornos sistêmicos imprevisíveis.

Para os reformadores de Bretton Woods a estabilidade do câmbio e dos juros era fundamental para a tomada de decisão na esfera produtiva do capitalismo. Uma decisão de longo prazo, como é o caso de um grande investimento, requer um horizonte razoável de segurança e para isso duas taxas devem oferecer certo grau de previsibilidade: a taxa de juros e a taxa de câmbio. Esses são dois preços-chave da economia que informam fundamentalmente a decisão capitalista: a taxa de juros indica qual é a conveniência do detentor da riqueza mantê-la sob a forma de capital monetário ou investi-la sob a forma produtiva, ou qualquer outra forma. Para isso a estabilidade da taxa de juro em um patamar moderado é fundamental. (4) No caso da taxa de câmbio, o que se espera é que ela amplie o horizonte de paridade entre o dinheiro particular – as moedas nacionais – e a moeda de referência mundial. Se esses preços flutuam erraticamente, a decisão do capitalista torna-se totalmente desordenada.

A lógica do controle dos capitais que prevaleceu nos anos 50/60, permitiu que as economias pudessem crescer de maneira mais ou menos equilibrada gerando, não por acaso, aquilo que se convencionou chamar de milagre alemão, milagre japonês, milagre italiano...Tudo ancorado na arquitetura de um capitalismo domesticado, quer dizer, do capitalismo controlado politicamente pela intervenção do Estado em cada país. Essa institucionalidade impediu que fossem reproduzidas as crises dos anos 20, e mesmo as crises do final do século XIX em boa parte do século XX.

Fim de um modelo

A partir do final dos anos 60, essa arquitetura começa a ruir por conta do agravamento de um defeito de origem fundamental na sua engrenagem: a moeda internacional utilizada nesse arranjo era a moeda de um país, o dólar norte-americano. Políticos e técnicos que participaram dos debates de Bretton Woods já haviam identificado os limites dessa ambigüidade.

Somente enquanto essa moeda fosse emitida de maneira moderada, haveria possibilidade de ser aceita pelas demais nações como referência internacional. Embora o fetiche da moeda seja conhecido, a verdade é que ela não tem vida própria, mas reflete um fenômeno social. Sua legitimidade como meio de troca e reserva de valor só subsiste na medida em que figurar aos olhos da sociedade como representação efetiva da riqueza existente.(5)

A partir de meados dos anos 60 esse predicado começou a desbotar nas notas de dólar. A moeda norte-americana passou a se enfraquecer em conseqüência do papel exercido pelo país como polícia do mundo ocidental, o que obrigava o Tesouro a um dispêndio de moeda muito superior ao que seus parceiros estavam dispostos a aceitar.

Apesar da prosperidade geral – e aqui é importante lembrar que 1968 foi um ano de grande prosperidade e esta durou até 1973 – os europeus começaram a contestar a universalidade do dólar, ou o seu papel como representante da riqueza universal. Os primeiros a contestar foram os franceses. No seu entender, o volume de dólares injetado nos mercados pelos EUA excederia o total demandado para as trocas internacionais e os negócios financeiros, conforme havia sido acordado em Bretton Woods. O presidente De Gaulle inicia então a trocar dos dólares excedentes pelo ouro de Fort Knox. Em resposta, em 1971, Nixon, então presidente dos Estados Unidos, declara unilateralmente a inconversibilidade e o fim do padrão concertado em Bretton Woods.

Entre 1968 e 1971, na crise do dólar, começa a se formar o chamado Euro Mercado, cuja característica notável era a expansão de negócios financeiros fora dos controles prudenciais das autoridades monetárias. Sua emergência reflete o excesso de gastos e o déficit da balança de pagamentos norte-americanos. Quando o Banco da Alemanha, um banco central clássico e ortodoxo, acumulava excedentes em sua balança de pagamentos, deslocava o excesso de dólares e o redepositava no Euro Mercado. Essa foi uma das razões do chamado milagre econômico brasileiro, em pleno regime ditatorial.

A farta liquidez externa incentivou o Brasil a se endividar maciçamente em dólar no Euro Mercado, cujas taxas de juros eram convidativas – da ordem de 6% ao ano. Na época, entretanto, esse mercado era relativamente pequeno; só alguns países em desenvolvimento tinham acesso a ele.

Quando os norte-americanos declararam a inconversibilidade, em 1971, e permitiram a flutuação cambial em 1973 (até então, as taxas de câmbio eram fixas e administradas pelo FMI, sendo preciso sua licença para a desvalorização de uma moeda), desencadeou-se a flutuação geral das paridades. Esse foi um dos fatores que deflagrou o aumento do preço do petróleo, fixado em dólares.

Durante toda a década de 70 houve grande controvérsia sobre a substituição do dólar como moeda de reserva, sendo feitas várias tentativas nesse sentido. Os Estados Unidos saíram da guerra do Vietnã derrotados política e militarmente. Foi um período em que se anunciava urbi et orbi o fim da hegemonia norte-americana, o esgotamento de seu poder e a possível substituição da supremacia dos EUA pela da Alemanha. Em 1979, no entanto, na reunião do FMI realizada em Belgrado, os Estados Unidos reafirmaram a hegemonia do dólar posta em xeque pelos interesses europeus.

Primeiro, o governo norte-americano elevou brutalmente as taxas de juros, promovendo a valorização do dólar a ponto de explodir o déficit fiscal do país. Em seguida, Reagan promoveu uma redução de impostos que favoreceu os ricos e a classe média mais alta. Depois, em 1981/1982, iniciou-se a reversão do ciclo de alta dos juros. O declínio das taxas deflagrou um vigoroso ciclo de consumo e de importações na economia norte-americana. Japão, Coréia e Taiwan foram os grandes provedores desse mercado até 1985. O Japão conseguia superávits monumentais à custa dos déficits dos EUA. O que permitia uma dieta pantagruélica ao consumo norte-americano, sem qualquer problema adicional de balança de pagamento, era o fato de deter o controle da moeda de reserva, ou seja, deter a prerrogativa de pagar seu déficit em dólar, e o mundo, de novo, aceitar.

A diferença em relação ao cenário dos anos 70 é que os Estados Unidos passaram a financiar o seu déficit emitindo papéis do Tesouro, como uma espécie de colchão de liquidez. Quando ocorreu a crise da dívida externa na América Latina, devido ao aumento na taxa de juros, o déficit fiscal norte-americano permitiu que os bancos limpassem de seus balanços os créditos podres latino-americanos. Ou seja, a exemplo do que se faz hoje em escala turbinada por um grau de incerteza e de imprudência inéditos, trocaram-se ativos podres por títulos com liquidez de mercado assegurada – e naquele momento a taxas de juros mais convidativas que as atuais. Foi assim que o déficit do Tesouro salvou os bancos norte-americanos enquanto os mais precipitados anteviam a quebra da maior economia do mundo. Como se sabe, tal não ocorreu. Os bancos privados carregaram papéis da dívida norte-americana em suas carteiras, utilizando-os como um mecanismo de transição para o ajuste do sistema financeiro privado. Se o governo dos EUA não tivesse feito um déficit (do tamanho daquele feito por Reagan) e se não tivesse emitido dívida pública, os bancos norte-americanos teriam quebrado.

Os Estados Unidos salvaram seu sistema bancário, ao mesmo tempo em que se transformaram – de credores globais desde o final da I Guerra Mundial – em devedores globais (a dívida pública norte-americana, que em 2001 era de três trilhões de dólares, deve saltar nesta crise de 2008 para algo como dez trilhões de dólares). Os anos 80 foram marcados por essa mudança de posição, em que parecia que os bancos japoneses, por exemplo, iriam superar – e superaram em volume de depósitos internacionais – os bancos norte-americanos.

Durou pouco essa impressão. Em 1985, quando a coisa estava indo longe demais, os Estados Unidos fizeram as famosas reuniões do Louvre e depois do Plaza, que deram origem ao G7. Nessa rodada de peixes grandes os EUA comunicaram que a valorização do dólar fora longe demais. O déficit do país estava exagerado e a indústria norte-americana não suportaria mais a carga da perda de competitividade internacional.

Arremataram anunciando que chegara a hora de seus parceiros assumirem o ônus de reverter esse quadro unilateralmente. Curto e grosso, obrigaram o ien e o marco a se revalorizarem em relação ao dólar, sem que os EUA tivessem que elevar suas taxas de juros para isso.

Foi o início da longa crise japonesa. O Japão foi obrigado a cortar custos, a reduzir lucros e salários de suas empresas. Com o ien excessivamente valorizado, e as moedas dos vizinhos asiáticos ainda desvalorizadas face ao dólar, os investimentos japoneses se deslocaram para o Sudeste Asiático. Isso explica o aparecimento da segunda geração de Tigres Asiáticos – Cingapura, Malásia, Tailândia, resultado da expansão regional do capitalismo japonês .

A partir dessas plataformas as empresas japonesas retomaram a capacidade de exportar para os Estados Unidos. O Japão criou laços profundos com o Sudeste Asiático, mas acabou nocauteado no começo dos anos 90. Os parceiros asiáticos continuaram a crescer até a nova crise de 1997 (recuperarando-se depois, mas de maneira frágil).

Os EUA no centro da crise

Apesar de ter crescido a partir de 1995/1996, a taxa média de expansão da economia norte-americana na década de 90 foi inferior ao desempenho médio verificado entre os anos 50/60. O mesmo ocorreu com a maioria dos demais países: na era dos mercados financeiros desregulados as taxas de crescimento foram muito inferiores às do período anterior, o do capitalismo domesticado, por qualquer critério de comparação (taxa de crescimento, expansão do emprego, crescimento dos salários reais...).

No período Reagan, com a valorização do câmbio, o investimento cresceu muito pouco; sendo basicamente um ciclo de expansão apoiado em consumo. No período mais recente, assistimos a um ciclo de investimento e de consumo com brutal concentração de capital – não só na área produtiva, mas também na área financeira. A contrapartida desse processo, fortemente impulsionado pelo crédito, foi um elevado grau de endividamento do setor privado (famílias e empresas), que alcançou o nível mais alto do pós-guerra.

A valorização crescente do mercado de ações pode servir como fita métrica desse endividamento. Ela exprime a riqueza fiduciária que as famílias e as empresas pensam ter. Na medida em que as ações se valorizaram, famílias e empresas adquirem mais papéis e ações; imaginando que sua riqueza patrimonial se elevou, elas se endividam ainda mais– com as ações servindo como garantia (mais recentemente o mecanismo se transferiu para a valorização do mercado imobiliário). Bancos livres das regras prudenciais acumulam ativos de empréstimos a famílias ancoradas em uma base patrimonial anabolizada especulativamente.

Quando ocorre a correção de preços e o valor das ações cai, quem tem dívida em dólares vê seu patrimônio murchar drasticamente – diz-se desinflou o patrimônio. A poupança das famílias norte-americanas hoje é igual a zero (não poupam nada da sua renda); seu patrimônio líquido perde valor; os ativos que eles possuem estão se desvalorizando e o passivo fixado em dólares cresce e engorda.

Essa, na verdade, é a raiz da crise norte-americana presente desde 2001. Na medida em que as empresas vêem que a relação dívida/patrimônio aumentou muito, elas cortam investimento, e as famílias, seu consumo. Na ponta dessa convergência salta o desemprego, que tende a se agravar com a contração do crédito e da renda. Na medida em que o desemprego aumenta a tendência é um novo degrau de corte de gastos, o que leva a um nova rodada de demissões...

Uma das razões pelas quais os Estados Unidos conseguiram sustentar o padrão de crescimento, via endividamento, foi a capacidade de atrair capitais excedentes de todo o planeta – o Brasil hoje é o quarto maior investidor em títulos do Tesouro norte-americano, sendo a China o primeiro. Ninguém sabe até quando esse processo vai se sustentar. Até agora, a Bolsa cai, as taxas de juros declinam e a economia se desacelera, sem que haja uma fuga expressiva de capitais –ao contrário registra-se até um movimento inverso, uma busca de proteção, com investidores adquirindo papéis do Tesouro a uma taxa de remuneração inferior à inflação.

Qual é o limite dessa engrenagem? Ao examinarmos todo o período do pós-guerra, este por certo é o momento de maior fragilidade na administração da economia capitalista. Está claro que os efeitos deste novo capítulo da crise, deflagrado pelo estouro da bolha imobiliária, não desacelera apenas a economia norte-americana . Será preciso acompanhar a extensão e a profundidade dessa desaceleração sobre o mercado global para uma avaliação mais exata dos seus desdobramentos históricos para a economia capitalista. O certo, porém, é que o lubrificante da desregulação parece ter esgotado a capacidade de azeitar a engrenagem do sistema.

* Luiz Gonzaga Belluzzo é Professor-titular do Instituto de Economia
da Unicamp

Notas

(1) Nos anos 80 estava em voga se falar da excelência do capitalismo japonês, sua diferença e maior dinamismo. Mas essa ilusão com a possibilidade de a hegemonia norte-americana ser substituída por um outro país capitalista foi dissipada já em meados dos anos 80 – exatamente em 1985 –, quando os Estados Unidos forçaram a desvalorização do dólar e obrigaram o Japão a revalorizar o ien; portanto, a encarecer as suas exportações. Obrigaram-no também a abrir financeiramente sua economia. Com isso, impuseram ao Japão o começo de sua maior crise econômica do pós-guerra, e que não conseguiu superar até hoje. A economia japonesa praticamente não cresceu ao longo da década de 90, viveu uma recessão permanente, com pequenas recuperações, mas, nos dez anos que a economia norte-americana cresceu acima da média, ou acima de sua média histórica, o Japão cresceu significativamente abaixo de sua média histórica.

(2) Comparando-se o aumento de produtividade do imediato pós-guerra com o aumento de produtividade do trabalho de agora, mesmo nos Estados Unidos, vê-se que a média foi maior no imediato pós-guerra – coisa que a imprensa não diz!

(3) Especulativos não no sentido popular da palavra. São especulativos porque fazem aposta a partir de uma conjetura sobre o que vai acontecer com o valor de uma denominada moeda, o que vai acontecer com a taxa de juros.

(4) Não é por acaso que, em O Capital, Marx fecha o modelo com o capital a juros. Muitos leitores pensam que ele deixou o capital a juros para o fim porque era menos importante. Mas não é. Porque o capital a juros é a forma acabada – a forma mais aperfeiçoada, como ele diz – do capital, em que este se reproduz a si mesmo. E porque o capital a juros determina as condições de concorrência no mercado capitalista – que sinaliza quais são os capitais que vão sobreviver e quais vão soçobrar.

(5) Vemos na hiperinflação o que acontece: todo mundo foge da moeda, porque não há mais a confiança de que ela possa representar o padrão de medida de troca e de reserva de toda a riqueza existente. Portanto, é um fenômeno quase que convencional, uma convenção consolidada no espírito das pessoas. Não tem nada a ver com a materialidade ou a forma que assume.
Luiz Gonzaga Belluzzo 23/10/2008
LINKS

* www.pt.org.br
* www.fpa.org.br
* www.sof.org.br/marcha
* www.mst.org.br
* www.cut.org.br
* www.une.org.br
* www.ptnacamara.org.br
* www.assessoriadopt.org

JORNAL PÁGINA 13

Versão online - Página 13

BIBLIOTECA
Biblioteca virual
S3 DESIGN - CRIAÇÃO DE SITES
Todos os direitos reservados - Jornal Página 13

Leia Mais…

domingo, 26 de outubro de 2008

ALTERANDO AS ESTRUTURAS


A idéia de um Grupo que possa atuar de forma conjunta e unificada em vários locos de atuação surge como algo imprescindível para enfrentar a dura realidade de dispersão social e do próprio Movimento Estudantil (ME). Sabemos que a luta por educação de qualidade e formação critica não depende de alguns estudantes que participam do Movimento. Sabemos, ainda, que é urgente e necessária a articulação entre os estudantes, a formação política e a formulação de alternativas viáveis para a sociedade.

Precisamos construir um grupo que Altere as Estruturas do ME, que acabe com o modo hierárquico onde apenas alguns estudantes pensam e agem pelos outros, num verdadeiro distanciamento entre o conjunto dos estudantes e suas direções. Devemos encontrar outras maneiras de participação de todos e utilizar de formas diferenciadas de militância, sempre privilegiando os espaços coletivos de debates democráticos, místicas e cultura. Temos que garantir o sentimento de pertencimento dos estudantes, trazendo-os para serem agentes ativos nas lutas do ME, garantindo, assim, uma participação massiva e radicalmente democrática da categoria estudantil.

Precisamos revolucionar a própria estrutura do ME. Para isso é necessário organização, só organizado os estudantes conseguiram a aprovação de suas pautas. É preciso existir dialogo constante com o conjunto dos estudantes e este deve ser democrático e participativo. Conhecer a realidade dos estudantes e saber suas reivindicações, trazendo as lutas para o cotidiano, é algo fundamental para gerar vínculo.

Pensando nisso, o Grupo Alterando as Estruturas, já surge com a proposta de proporcionar aos estudantes esse dialogo sobre a Sociedade que vivemos e como a mesma se organiza; sobre a necessidade de saber identificar e combater os instrumentos de manutenção do poder daqueles que detém o Capital financeiro, como a transformação do Ensino Superior em mercadoria; debater sobre as questões de gênero, de raça e de sexualidade; discutiremos, ainda, sobre cultura e o poder de transformação e mobilização advinda deste indispensável instrumento, objetivando a construção da sociedade que queremos e o combate a todo tipo de opressão.

Vamos ao debate teórico e prático de forma horizontal e participativa, formulando e aprovando nosso caderno de resoluções que servirá como um fundamental conjunto de idéias para a disputa do segmento estudantil. Aqui em Alagoas representaremos a Tese Reconquistar a UNE, importante Tese que compõem a oposição da nossa entidade nacional.

Em suma, esperamos construir as condições necessárias para o aprofundamento do debate e, com isso, garantir a formação de um novo grupo no Movimento Estudantil que realmente Altere as Estruturas da Educação e da Sociedade. Estaremos juntos nessa luta.


Saudações Socialistas!

Leia Mais…

Carta de Agradecimento aos apoiadores da Campanha

Maceió, 23 de outubro de 2008

Companheiros/ as,

A Articulação de Esquerda – AE é uma corrente interna do PT desde 1993, acreditamos no processo eleitoral não com fim, mas como meio para disputa da sociedade. Neste processo de 2008 lançamos um candidato às proporcionais com o objetivo de agregar forças a nossa luta cotidiana combatendo as desigualdades sociais visando à construção de uma sociedade socialista.

Por isso agradecemos verdadeiramente a todos/ as que acreditaram e contribuíram para que este projeto pudesse ser concluído de forma limpa e democrática. Fizemos uma campanha militante dialogando com diversos segmentos que são importantes para agregarmos força na construção de um PT socialista, democrático e de massas. Avaliamos que saímos fortalecidos e vitoriosos deste processo eleitoral e estamos e continuaremos na luta, buscando a construção de uma sociedade justa e igualitária.
Saudações Socialistas a todos/as!

Articulação de Esquerda – Alagoas

Leia Mais…

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Movimento Sindical como Ferramenta de Transformação Social


Tiago Sandes

Desde as lutas e greves na década de 80 no ABC paulista, o movimento sindical brasileiro transpõe para a classe trabalhadora um verdadeiro embate político-ideológico embasada na atual conjuntura traçada pelo governo LULA. Estando exposto a esse processo, podemos analisar uma verticalização em torno do pós-neoliberalismo e a construção da consciência de classe fundamentada na afirmação do proletariado como hegemonia social.
A partir da formação estrutural da sociedade, as lutas de classe estão estendidas como porta de entrada na condução do processo em curso na relação entre as pessoas. A começar do comunismo-primitivo, a analogia transcreve que, a partir deste primeiro modo de produção, que fatores históricos de organização de classe permitem uma nova plataforma que possa atender as necessidades existentes pela maioria da população.
O estabelecimento de um governo advindo da classe trabalhadora, não interrompeu a progressão capitalista. Nem mesmo com a ampliação de governos progressistas na América Latina, não se conseguiu romper com a exploração imposta pelo sistema aos trabalhadores. Isso é uma resultante de um método não compatível para compreensão e concepção do trabalhador enquanto classe.
São nestes parâmetros, que os sindicatos enquanto instrumento de defesa deste conjunto social, possa desempenhar um papel indutor de uma remodelagem na individualidade de cada militante para que então possamos edificar uma personalidade coletiva, coesa e distinta. A atrelagem a um modelo institucional, burocrático e de papel já definido, vem a retroagir os princípios fundamentais de organização e disposição de consolidar paulatinamente através do estabelecimento dos laços com nossas bases sociais, que são históricas e o único caminho que podemos trilhar em direção a um horizonte, sem especulação das relações humanas, para que possamos vislumbrar o socialismo.
A Articulação de Esquerda surgiu em 1993 e desde 1997 decidimos construir nossa linha sindical (AE Sindical). Como organização política, social e dirigente, vem reafirmar suas posições Socialistas e Revolucionárias estabelecendo o compromisso com a classe trabalhadora, apontando diretrizes para atuação nos sindicatos e na CUT, organizando nossa política frente às organizações sindicais Cutistas ou não e as demais tendências.

Membro do setorial sindical do PT Alagoas.

Leia Mais…

A crise e suas soluções

Escrito por Wladimir Pomar

As discussões em torno do pacote proposto pelo governo Bush e seu "derivativo" aprovado pelo Congresso dos EUA também estão gerando polêmicas, algumas certamente fora de foco.

Não deixa de ser preocupante que economistas considerados de esquerda se
pronunciem a favor do pacote porque ele tentaria travar uma crise financeira com conseqüências sobre o mundo todo. Por outro lado, economistas progressistas dos Estados Unidos e de outros países têm procurado mostrar que esse pacote não é apenas ineficiente, mas tem em vista salvar somente os banqueiros.

Alguns deles têm acentuado que a preocupação das autoridades norte-americanas tem consistido em comprar ativos ilíquidos do sistema financeiro, privatizando os lucros e socializando as perdas. Estranham, assim, que o secretário do Tesouro americano, Paulson, esteja sendo chamado de socialista, por acharem que o que ele tenta fazer é salvar os que consideram culpados de atos extremamente prejudiciais.

Além disso, acusam o pacote de não tratar do problema da brutal descapitalizaçã o sofrida pelas instituições financeiras. Estas, depois de haverem visto cerca de 16 trilhões de dólares dos recursos de seus clientes serem torrados na fogueira das bolhas especulativas, estão sem condições de ofertar o crédito que a economia necessita para funcionar.

Outros concordam com a necessidade de o Estado comprar os ativos ilíquidos, desde que assegurando que os acionistas sejam os primeiros em assumir as possíveis perdas. O que seria obtido suspendendo o pagamento de dividendos e aumentando os requerimentos de capital dos bancos. Assim, embora sob enfoques diferentes, há um certo consenso em considerar que os temas centrais do salvamento do sistema financeiro norte-americano seriam a punição dos responsáveis e a regulamentação do sistema.

Firma-se, supostamente para sorte do mundo, a idéia de que a sociedade americana seria robusta, com uma democracia em pleno funcionamento, capaz de dar solução a seus problemas e aos problemas mundiais punindo os responsáveis, criando regulamentos para impedir desvios idênticos e reconquistando a confiança no sistema.

Omite-se, assim, que tais temas são secundários, e que os problemas centrais da sociedade capitalista americana são problemas estruturais do sistema capitalista, cujas soluções são temporárias, e sempre às custas dos trabalhadores e do resto do mundo.

Os pacotes apresentados para tirar o capital norte-americano da crise, tanto o de Bush, quanto o que foi aprovado pelo Congresso, não visam punir os grandes banqueiros. Como diz Muhammad Yunnus, que criou o Banco dos Pobres, "quem tinha um bilhão continuará tendo um bilhão. Quem tem vários milhões, continuará com alguns milhões. Já os pobres, aqueles que não tinham como pagar uma refeição inteira, em pouco tempo se darão conta de que poderão pagar apenas metade. E são esses os que mais sofrerão com a crise".

O problema conjuntural, na ausência de um potente movimento social de superação do capitalismo, consiste então em saber até que ponto os países emergentes poderão evitar que seus pobres sofram com a desaceleração da economia mundial e, ainda por cima, tenham que pagar as esmolas que o capitalismo dos Estados Unidos e da Europa procurarão conceder aos seus próprios pobres para impedir que eles se mobilizem contra o sistema.

Wladimir Pomar é escritor e analista político

Leia Mais…

PPPI - Uma porta para a promoção de uma educação de qualidade


Comunidade – Integrar no cotidiano da escola a convivência com os pais através de atividades pedagógicas internas e externas dentro do calendário escolar a fim de atingir esse perfil nos próximos 3 anos com bons indicadores de sucesso a curto prazo.
Aluno – A dinâmica escolar não deve girar em torno da especificidade sala de aula, temos que planejar um calendário em que possamos avaliar o desempenho e grau de intelectualidade a partir de interações que possam fazer com que ele (s) compreenda (m) como atua e funcionam os diversos fatores físicos, químicos, biológicos, históricos e geográficos em suas respectivas disciplinas. Tanto os professores quantos os coordenadores podem provocar esse debate e por fim conduzir o processo junto às instâncias de planejamento pedagógico, metodológico e institucional da CNEC. Esta junção deve ser em curto prazo para que possa ser colocado em prática no ano que se segue. Podemos sair na frente recolocando da escola com um novo olhar apontando para o futuro. Médio prazo.
Escola – A escola de ser um espaço harmônico. A harmonia está na lógica que essa mesma escola deve girar em torno de horizontes, em uma organicidade que possa proporcionar uma vida mais agitada em torno das discussões contemporâneas ligadas as áreas da ciência e cultura. A promoção de espaços concomitantes para que possam desenvolver projetos orientados por professores e coordenadores, neste sentido, colocando-os co-responsáveis no direcionamento dos projetos escolares. Médio prazo.

Missão – Militantes da educação tem que propor uma educação de qualidade, de formar cidadãos que possam ser protagonizantes de seu próprio futuro.
Perfil do cidadão – Promover ações que possam instigar seus princípios e desmistificar preconceitos acerca dos problemas sociais. Os professores, principalmente da área de humanas, devem propor atividades internas para que eles possam expor seus anseios comuns ou não.
Valores – Os valores são buscas incessantes do ser individuo, ou seja, do perfil individualista de cada um. Os valores além de serem expostos necessitam ser instigados. Nossos valores não devem ficar apenas na memória ou em faixas, e sim, propositalmente exposto e premiado pelo conjunto escolar. Esse projeto pode ser visto em curto prazo.
Competências – Boa pergunta. Competências? De quem são? As competências são generalizadas, cada papel no conjunto educacional tem um perfil a desempenhar, inclusive o aluno. Para termos sucesso, esse conjunto tem que exercer suas habilidades e no final avaliarmos.
Conteúdo – Em algumas séries ou anos, os conteúdos programáticos são extensos. Concordo que devemos seguir uma orientação sobre a distribuição do conteúdo já que temos uma maratona de preparação em torno do vestibular. Mas, penso que nós professores neste aspecto, poderíamos ser privilegiados pelo menos no aspecto consultivo. Deve ser trabalhado de uma forma mais objetiva para que suas habilidades sejam melhores trabalhadas e desafogue o calendário que é muito curto a vista do conteúdo a ser trabalhado.
Metodologia – A individualidade neste ponto predomina. Mas, com certeza poderíamos democratizar as informações metodológicas por área. Isso passa por um planejamento voltado para os pedagogos. A metodologia passa pela disponibilidade de ferramentas necessárias para o desenvolvimento da mesma.
Atividades – Neste contexto é importante a manutenção de atividades que possam socializar. Algumas datas importantes devem ser mantidas e ampliadas inclusive, a Semana do Meio Ambiente.
Aprendizagem – Esse deve ser o principal foco do conjunto geral da escola. A aprendizagem não é sinônimo de sala de aula, ela faz parte, mas não é tudo. Neste contexto temos que planejar um calendário de atividades extra classe para que possamos proporcionar uma visão mais ampla e definida do que está em torno de nós, nosso mundo, a sociedade, o meio ambiente e a escola.
Avaliação – O método de avaliação permeia as condições expostas pelos diversos níveis da educação brasileira, mas, ela pode e deve ser aperfeiçoada a todo o momento. Os projetos devem ter esse papel fundamental no encaixe total dos métodos de avaliação.
Recursos – Esse é um grande problema para o desenvolvimento educacional. A informatização deve estar inserida neste contexto. As ferramentas como retro projetores, sons, biblioteca, laboratórios, data-show e computadores devem ser estabelecidos no cotidiano da escola. Essas ferramentas podem estar inseridas em médio prazo com aquisição anual dos diversos mecanismos do ensino-apredizagem.
Sistema CNEC – O sistema de ensino CNEC é contextualizado. O aprimoramento deve ser compartilhado por quem faz a educação cotidianamente. Professores, coordenadores e diretores devem participar da elaboração de um plano de metas dentro das diversas disciplinas contempladas no sistema educacional.

Tempo – “A pressa é inimiga da perfeição”. Esse ditado deve ser irrestrito quando pomos em prática o que almejamos. O tempo não pára e nele estamos. A partir dessas afirmações nos vemos na necessidade de programarmos em torno de um calendário curto para que possamos desempenhar ambos os papéis, de educador e formador.
Espaço – Não podemos estar fragmentados no tempo e no espaço. O espaço não deve ser momentâneo, ele tem que proporcionar uma longevidade em torno das práticas educacionais para que possa ser atrativo, resultando num acúmulo qualitativo e não quantitativo para os estudantes e professores futuros, e a adesão a essa nova forma de se organizar é natural.
Normas de convivência – Temos em nossa estrutura o processo hierárquico, as disposições bem ordenadas entre as partes devem seguir num ritmo ético imprescindível para a manutenção de um ambiente fraterno.


Tiago Sandes – Geografia CNEC / CCS

Leia Mais…

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Alta dos preços dos alimentos faz crescer número de famintos


06/10/2008


O número de famintos volta a subir na América Latina e no mundo. O alerta é da agência da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) que concluiu em seu relatório anual que a alta dos preços de alimentos fez disparar os números da fome pelo planeta.

Segundo o diretor-geral da FAO , Jacques Diouf, 75 milhões de pessoas entraram para os índices da fome, 8% de 2005 para 2007, quando o número chegou a 923 milhões. Desse total, 907 milhões vivem nos países pobres. Em 2008, o número deve ser ainda maior, por causa da inflação.

Com a alta nos preços dos alimentos, 33 países na África, Ásia e América Latina passaram a integrar a lista de locais onde a fome se transformou na principal crise. As regiões mais atingidas foram Ásia e África, onde estão 89% dos famintos. Nos países asiáticos, são mais 41 milhões de famintos. Outros 24 milhões surgiram na África.

Já na América Latina são 6 milhões famintos a mais desde a elevação dos preços dos alimentos, computando agora 51 milhões.

Os que mais sofrem com a crise dos alimentos são os agricultores Sem Terra. E quem fez essa observação foi o responsável pelo levantamento, o economista da FAO Kostas Stamoulis.

O crescimento da fome no mundo, potencializado pelo aumento dos preços dos alimentos, coloca como prioridade para a existência humana a reflexão sobre o atual modelo de desenvolvimento para o campo.

Em agosto deste ano, o relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, Olivier de Schutter, afirmou que estudos recentes apontam a produção de agrocombustível dos EUA e da União Européia - feito a partir de grãos - como sendo a principal causa da crise mundial dos alimentos. O professor belga afirmou ainda que será necessário designar um monitor internacional para supervisionar a produção de fontes alternativas de energia como o etanol.

Segundo o especialista, a produção de agrocombustível aumentou a especulação no setor agropecuário e na área de commodities, e desviou o foco da produção. Até mesmo o FMI (Fundo Monetário Internacional) afirmou que 70% do aumento do preço dos grãos foi causado pelos agrocombustíveis, sendo os maiores afetados o milho e a soja. A instituição ainda apresenta um dado assustador: um aumento de 1 ponto percentual no preço de alimentos provoca um aumento de 16 milhões de pessoas que sofrem de subnutrição.

Tudo isso mostra que no Brasil o incentivo ao aumento da produção de etanol também deve causar graves problemas, já que aqui a ordem também é apostar cegamente nos agrocombustíveis. No estado de São Paulo, por exemplo, a cana-de-açúcar destinada à produção de etanol já ocupa 70% de todas as terras agriculturáveis, substituindo alimentos como o feijão.

Reforma Agrária: mais atual que nunca

Uma reflexão sobre o atual modelo de desenvolvimento para o campo passa necessariamente pela discussão sobre a atualidade da luta pela Reforma Agrária, que hoje, mais do que nunca, mostra sua importância e urgência.

Remando contra a maré, recentemente também a FAO admitiu a necessidade de investir na agricultura familiar. Segundo a organização, US$ 30 bilhões terão de ser investidos por ano para dobrar a produção de alimentos, ajudar os pequenos produtores, tornar alimentos acessíveis e reduzir a fome.

No Brasil, a agricultura familiar é a principal responsável pela produção de alimentos. Daquilo que chega à mesa dos brasileiros, mais de 60% vem da agricultura familiar. Ela produz 78% do feijão, 84% da mandioca, 58% dos suínos, 54% da bovinocultura do leite, 54% do milho, 60% do trigo e 40% de aves e ovos. Na produção de carne bovina, a pequena propriedade rural contribui com 62,3%; a média, com 26,4%; a grande propriedade, com 11,2%. A produção leiteira depende da pecuária familiar em 71,5%. O latifúndio produz apenas 1,9%. As médias respondem por 26,6%.

Leia Mais…

Fusos Horários