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terça-feira, 10 de junho de 2008

Um humorista no BC

A taxa básica de juros subiu de novo. De quem é a culpa? Da esquerda, é claro. Pelo menos é o que eu entendi ao ler a “versão Folha” de uma reunião entre Henrique Meirelles e deputados do PT, realizada há alguns dias.

Segundo o jornal paulista, o presidente do Banco Central teria dado “um passo importante na direção petista e ganhou a simpatia dos, até então, adversários ferozes, dizendo que, no mundo todo, quem soube gerar crescimento com estabilidade de preços foram os governos de esquerda. ‘A direita não sabe fazer isso’, afirmou, segundo deputados que participaram do encontro”.

Ficamos sabendo, também, que Meirelles “definiu sua política monetária como ‘de esquerda’ a uma delegação do PT que o procurou ontem para municiar-se de argumentos capazes de responder aos questionamentos de suas bases eleitorais quanto ao aumento das taxas de juros. Meirelles se inspirou em pronunciamento do senador Jefferson Péres (PDT-AM), recentemente falecido, no qual afirmou que ‘política monetária frouxa é política monetária de direita, porque corrói o salário do trabalhador’. Segundo o presidente do BC, os dados de aumento de consumo da família brasileira e a transferência de parte das classes D e E para a classe C, mostram que a inflação foi derrotada pela política monetária aplicada, com efeito direto e positivo na renda do povo”.

Para arrematar, Meirelles teria dito que “as políticas monetárias mais duras e os ajustes mais amargos que recuperaram economias em crise foram aplicadas por governos de esquerda, citando os governos de Jimmy Carter, nos EUA, de Tony Blair, na Inglaterra, e de Felipe González, na Espanha”.

Convenhamos, o presidente do Banco Central é um humorista de coragem. Só assim para elogiar a política monetária adotada pelo FED durante o governo Carter, omitindo que o efeito colateral disto foi a eleição de Ronald Reagan!

Se citar Carter foi um deslize involuntário, falar de Blair e González foi caso pensado. Estes dois senhores protagonizaram a modernização conservadora da esquerda européia. Para Meirelles e os setores políticos e sociais que ele expressa, seria ótimo que o PT seguisse o mesmo caminho. Afinal, um dos efeitos colaterais da conversão realizada pela social-democracia, nos anos 80 e 90, é a hegemonia conservadora na Europa de hoje.

Meirelles parece estar preparando sua saída do governo. Coincidentemente, num momento em que será cada vez mais difícil ocultar os efeitos nocivos da política implementada pelo Banco Central.

Há que considerar o impacto da crise internacional na economia brasileira, tanto nos preços quanto no câmbio. Utilizando este impacto como pretexto, o Banco Central brasileiro está operando uma alta na taxa básica de juros, o que atrai mais dólares para o Brasil e piora a situação da taxa de câmbio, dificultando por sua vez as exportações e ampliando a vulnerabilidade externa.

Por outro lado, a política de “crescimento econômico com redução das desigualdades” sofre oposição cada vez maior da oposição neoliberal. Derrotados nas eleições presidenciais de 2006, os neoliberais continuam em campanha por sua política de “redução de gastos”, leia-se: menos Estado, menos políticas públicas, menos políticas sociais. Um episódio importante desta batalha foi a derrota da CPMF, imposto que financiava parte da saúde pública brasileira.

Na prática, o Banco Central atende aos objetivos da oposição neoliberal, uma vez que o aumento da taxa de juros eleva o montante da dívida pública e reduz a capacidade de investimento (produtivo ou social) do governo federal.

Outros setores do governo e de sua base de apoio reagem com propostas variadas, desde a criação de uma nova fonte de financiamento para a saúde, passando pela proposta de um Fundo Soberano, ou simplesmente fazendo pressão para viabilizar o PAC e outras políticas públicas.

A discussão sobre a política econômica constitui uma espécie de terceiro turno das eleições presidenciais de 2006 e uma ante-sala do debate que será travado nas eleições de 2010.

Estando ele ou não no governo, o balanço da “era Meirelles” será parte deste debate. Exemplo: recentemente, Veja perguntou a Arlindo Chinaglia por qual motivo “os petistas insistem em pedir a cabeça do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles?”

Chinaglia respondeu que “há uma vocação natural do PT de fazer pressão por mais desenvolvimento e mais crescimento. O Meirelles, justa ou injustamente, ficou marcado no partido como um obstáculo a esse desejo, um entrave ao crescimento do país. Sua saída não vai merecer aplausos no PT, mas vai criar a expectativa de que possibilite mais crescimento. Qualquer um no PT ou fora do PT pode discordar do Meirelles, pode desejar mudanças, mas não pode negar que ele teve participação relevante nos resultados do governo até agora”.

Claro que a saída de Meirelles não vai merecer aplausos de todo o PT. Mas da grande maioria, mesmo que silenciosa, certamente. Até porque é difícil negar que sua “participação relevante nos resultados do governo” foi e segue sendo de entrave.

Seja como for, o cidadão é um humorista de mão cheia. Quem mais nos faria pensar no Delfim Netto como alternativa?

Valter Pomar é secretário de Relações Internacionais do PT

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