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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Fortalecer o PT para mudar a UNE


*Bruno Elias

A realização do Encontro Nacional dos Estudantes do PT e o início das eleições de delegadas/os ao Congresso da UNE estimularam um debate importante no partido. Trata-se, afinal, de debatermos sobre o papel político a ser jogado pela juventude do PT na construção de uma UNE e um movimento estudantil democrático, de lutas e que estejam à altura dos desafios colocados para a esquerda no próximo período.

Colaborando com este debate, os companheiros Rafael Chagas, da executiva da UNE e Joaquim Soriano, da executiva nacional do PT, apresentaram em recente artigo a opinião de que frente a tais desafios, a juventude do PT deveria, no próximo Congresso da UNE, construir com as juventudes do PCdoB (UJS) e do PSB o que eles chamam de “unidade da esquerda na UNE”.

Consideramos esta opinião parcialmente correta. Ela acerta quando aponta a necessidade de unidade, mas erra quando propõe um tipo de unidade que bloqueia as mudanças necessárias para que a UNE esteja a altura dos desafios contemporâneos. Na nossa opinião, a unidade que mais contribui é a unidade do PT e dos demais setores que pautam a democratização da UNE, impulsionando uma alternativa política para a UNE e para o movimento estudantil.

2010 e os próximos anos

O próximo congresso e gestão da UNE se situarão num ambiente de crise mundial, cujo desfecho dependerá da mobilização massiva dos trabalhadores e da juventude.

As classes dominantes, em resposta a atual crise, querem socializar os prejuízos. Na educação, isto se traduz na pressão por cortes dos investimentos públicos em educação, bem como nas propostas de socorro aos tubarões de ensino, nas demissões, atrasos salariais e aumento de mensalidades nas escolas privadas.

Contra a política das classes dominantes, é certo que há inúmeros pontos de contato e unidade com as posições de outras juventudes partidárias. Inclusive no tocante as eleições de 2010.

No caso da UNE, no entanto, esse exercício deve ir além da retórica ou dos projetos comuns de resolução nos fóruns da entidade, já que na vida real a direção majoritária da UNE tem optado pela política do “vale mais um mau acordo do que uma boa briga” com os tubarões de ensino, reitorias e, inclusive, contra medidas governamentais conservadoras.

O PCdoB e seus aliados na UNE tentam muitas vezes reduzir as discussões sobre o papel do movimento estudantil na atual conjuntura, a uma polarização entre os favoráveis e os contrários ao governo Lula. Para justificar uma política de alianças, que não raro inclui a direita, superestimam as posições da ultra-esquerda – amplamente minoritária na base do movimento.

Tal polarização, além de artificial, acaba resultando no seu contrário, pois dá palanque ao esquerdismo, tornando mais difícil a posição daqueles que apóiam o governo, mas não aceitam uma UNE chapa branca.

A situação do movimento estudantil e da UNE

O que também exige uma discussão fundamental, porém escapa à avaliação do texto dos companheiros da Democracia Socialista, é a situação atual do movimento estudantil.

Partimos de uma avaliação menos ufanista da atual situação da UNE e do movimento estudantil brasileiro.

Para além dos impactos do conservadorismo ideológico e do refluxo do movimento de massas, acreditamos que a UNE e o ME vivem um momento de profunda dispersão, tencionada por uma crise presente de legitimidade e representatividade perante sua base social.

Além disso, a UNE e o conjunto do movimento estudantil não tem conseguido acompanhar as profundas mudanças ocorridas no perfil da juventude, dos estudantes e da educação superior. O ME, embora seja ainda o movimento juvenil mais organizado do país, está longe de ser a única expressão organizada da diversidade da juventude brasileira.

Compreender essas mudanças é fundamental para darmos lastro a uma pauta e agenda política que se identifiquem com a realidade dos estudantes. Se a sociedade mudou, a universidade mudou e os estudantes mudaram, porque o movimento estudantil deveria se organizar da mesma maneira? Recolocar o ME e a UNE a frente de grandes lutas no país exigirá um diagnóstico sério sobre essas e outras questões.

Todas as forças que dirigem a UNE são responsáveis pela sua incapacidade em enfrentar estes problemas. Mas, convenhamos, a responsabilidade do PCdoB e da União da Juventude Socialista e aliados é proporcional ao peso que eles possuem na direção da entidade.

Não estamos entre aqueles que consideram que a UJS é o “mal” do movimento estudantil. Contudo, ao ser fiadora de uma cultura política e de organização que imprime à ação das entidades uma orientação defensiva, institucionalizada e distante de sua base social, essa organização não ajuda a retomarmos o protagonismo da UNE e do movimento estudantil.

A tímida referência de Chagas e Soriano aos “avanços” da entidade indica tão somente o que todos já sabem: no essencial nada mudou. Ou seja, a relação da UNE com o conjunto do ME enfrenta limites cada vez maiores, sua linha política continua conciliatória e o controle da entidade permanece centralizado.

Construir uma nova direção para o movimento estudantil é, por óbvio, muito mais do que derrotar uma direção majoritária. Mas achamos impossível construir uma “nova” hegemonia, a partir de uma composição com a “atual” força hegemônica. O máximo que se pode conseguir, através deste caminho, é participar da maioria, não mudar a sua direção.

Nossa defesa da UNE é combinada com a defesa de mudanças profundas na condução e organização da entidade. No caso dos jovens petistas, essa defesa deve contribuir para elevar o nível de consciência dos estudantes, combatendo os autonomismos, a falta de referência partidária, o movimentismo e combatendo igualmente as práticas aparelhistas. Com a diferença que nós nunca patrocinamos, nem patrocinaremos, a divisão das entidades de massa, a exemplo da saída da CUT impulsionada pelo PCdoB.

O momento da juventude do PT

O I Congresso da Juventude do PT foi um espaço privilegiado de debate e reflexão sobre a intervenção dos jovens petistas nos movimentos sociais, dentre os quais o movimento estudantil universitário. Nosso Congresso reconheceu de maneira acertada em suas resoluções que se “levarmos o problema de organização da juventude para nossa intervenção nos movimentos juvenis, a situação é aquém da capacidade de mobilização real do PT. Hoje, não conseguimos ocupar em nenhuma das frentes de luta dos movimentos juvenis uma posição de centralidade. Atuamos de maneira fragmentada e, em geral, levando as disputas internas para o seio dos movimentos.”

No movimento estudantil, essa fragilidade é muito presente. A atuação dos petistas enquanto “frente de tendências” – e por vezes, de interesses - nos coloca em posição subalterna à política de outras organizações juvenis e fragiliza a presença dos petistas, subrepresentados nas direções das entidades gerais.

Superar essas debilidades e construir uma identidade do petismo nos movimentos juvenis não se confunde com ingerência na autonomia dos movimentos, que historicamente defendemos. O papel que cabe ao partido e é reiterado pelos fóruns da JPT, respeita e valoriza a autonomia do movimento estudantil, submetendo suas propostas à deliberação democrática das organizações estudantis.

Por esses motivos colaboramos ativamente com a construção vitoriosa do último Encontro Nacional dos Estudantes do PT que, mobilizando 24 estados entre plenárias e encontros regionais, apontou uma plataforma e um plano de ações comuns para a juventude do PT no movimento estudantil.

Neste ENEPT pudemos perceber que há espaço para outra política no movimento estudantil e que os jovens petistas estão dispostos a dar sua contribuição. Curiosamente, companheiros que tanto resistiram em debater com a base e com os estudantes do PT nestes espaços a atuação dos petistas no Congresso da UNE, hoje são defensores dedicados de determinada tática e política de alianças para o conjunto da juventude partidária.

Por fim, saudamos a iniciativa do debate. Reitera, mesmo com as diferentes posições internas em nosso partido, a importância da UNE na luta política e para os petistas. Com o mesmo afinco que queremos uma juventude petista enraizada na classe trabalhadora, organizada para além do ME, devemos reconhecer que na organização da luta dos estudantes o PT dá grande contribuição a este que é um dos principais movimentos juvenis do país.

Bruno Elias, 1º vice presidente da União Nacional dos Estudantes

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